Monday, December 15, 2008

Minha avó é uma pessoa um pouco amarga. Atualmente, ela está com câncer. Nunca a vi reclamar, perguntar prognósticos aos médicos ou como será o tratamento. Outro dia, o médico que a acompanha há mais tempo chorou e disse que queria que todos os pacientes fossem como ela. Ela não deixa de reclamar porque desacreditou. Ao contrário: ela tem tanta fé, que é tranqüila. Sempre achei que a fé fosse uma coisa estúpida. Pela primeira vez em anos, consigo admirar uma pessoa com fé. Não é só uma fé em Deus: é uma fé nas pessoas, na vida, nos médicos. Uma fé que vem sorrateira e sem alarde. Minha avó perdeu um filho de 33 anos, o únco que cuidava dela. Teve um marido horrível e tem filhos completamente desequilibrados. Ela não se assusta quando o telefone toca de madrugada ou quando algum filho some no mundo. Sustentou toda uma família na ponta da agulha de bordado. Toma leite que o leiteiro entrega na porta, faz roscas e quitutes e lê a Bíblia. Deve ganhar um salário mínimo de aposantadoria, mas compra remédios de pressão, faz compras e sobrevive dignamente. Eu tenho 24 anos, já tomei anti-depressivos três vezes, quero fazer doutorado e ganhar mais de 5000 reais. Definitivamente, não se fazem mais mulheres da estirpe da minha avó. Ela não olha para o que não tem. Acho que também não olha para o que tem. É um olhar que não consigo captar porque é distante do meu mundo e dos meus propósitos. Não sei falar se é um olhar mais feliz, mas certamente é menos cético que o meu.

VÓ, EU TE AMO DEMAIS!!!!!